Escrever um livro

Superando bloqueio de escritor – O que fazer quando escrever vira um difícil dever

Vamos começar descrevendo aquela clássica história – uma pessoa tem uma ideia fantástica para um livro, e entusiasmadamente começa a trabalhar. O primeiro dia de escrita começa muito bem; as palavras fluem facilmente, quase como se tivessem vida própria. O segundo dia também corre muito bem – na verdade, a primeira semana toda é um sucesso! Mas algo acontece. As ideias começam a desaparecer, o tempo de escrita parece ser mais difícil de manejar, a vida começa a atrapalhar. E infelizmente, o projeto de escrita é abandonado, e só o sentimento de culpa a cada mês faz a pessoa continuar com ele em sua memória. Simples assim, o bloqueio de escritor asfixiou outro romance no berço.

Esta situação soa familiar? Não estás sozinho(a). 

Muitos autores tem um começo promissor, mas abandonam seus livros pouco tempo depois. Se és um(a) desses(as) escritores(as), ou suspeitas que serás um(a), então considera este artigo um incentivo. Agora, vamos falar sobre algumas das potenciais causas deste bloqueio, e depois vamos listar várias dicas que encontramos baseadas em autores bem conhecidos e dentro da nossa equipe sobre como superar essa situação.

Verifica todos os pontos que cobrimos neste artigo e encontra mais rápido o que precisas:

  1. Qual é a causa do teu bloqueio de escritor? Descubra!
  2. Como superar o bloqueio de escritor:
    1. Mantém a calma e continua escrevendo
    2. Programa tua escrita
    3. Estabelece rituais de escrita
    4. Sai, faz um pequeno retiro
    5. Como entrar no clima de criatividade e escrita

Então, qual é a causa do teu bloqueio?

Estar preso(a) na frente de uma página em branco (ou tela) é algo que acontece com muitos escritores. Embora este tipo de bloqueio provavelmente exista desde que a escrita foi inventada, o conceito de “bloqueio de escritor” só foi definido em 1947 pelo psicanalista Edmund Bergler. Ele observou que um bloco de escritor pode ser total ou parcial, e que as primeiras manifestações geralmente aparecem por meio de sentimentos de insegurança em relação à própria criatividade (podes ler um pouco mais sobre isso aqui).

Todos sabemos como é o bloqueio de escritor; sentimos desde a primeira vez que tivemos de escrever aquele texto sobre a luz verde em “The Great Gatsby” para a aula de literatura do ensino médio. Inclusive, parte da razão pela qual o bloqueio de escritor pode ser tão frustrante é não conseguir escrever algo que dessa vez realmente queres escrever, ninguém quer sentir isso em relação ao seu próprio trabalho. Associar memórias de escrita desagradáveis com os seus próprios projectos pode ser muito desgastante também, e é por isso que é importante compreender as razões do teu bloqueio.

Temos uma vasta experiência com bloqueio de escritor, como escritores e através de nossos usuários. Decidimos compilar uma lista das maiores causas do famoso bloqueio de escritor, e também os métodos pelos quais pessoas conseguem superar esse problema:

  • Perfeccionismo

As tuas expectativas são altas demais, e estão colocando-te pra baixo. Queres que tudo esteja certo antes mesmo de começares a escrever; achas que precisas estar em um estado de nirvana, que os corpos celestes precisam alinhar-se e que inspiração é um unicórnio que precisa abençoar-te. Naturalmente, isto nunca acontece, e acabas nunca começando. Isto é um problema muito comum, especialmente para novos escritores.

Nessas situações, é importante lembrares que Roma não foi construída em um dia, assim como livros não são escritos em um só. Os bons livros (os realmente bons) são produtos de um processo de reescrita detalhado e copioso. Basta fazeres aquele primeiro simples rascunho o mais rápido que puder. Uma vez terminado, terás uma base sólida de teu livro e podes liberar teu perfeccionismo impiedoso e esculpir tua história.

Outra vantagem disso é que já estarás familiarizado(a) com muitos dos problemas do teu livro; buracos na trama, desenvolvimento insuficiente do personagem – o normal. Com o primeiro rascunho fora do caminho, já estarás processando esses problemas subconscientemente, tornando-os muito mais fáceis de lidar assim que começares o segundo rascunho. Imagina este processo como pintar uma casa: precisas aplicar o primer antes de adicionar a primeira camada de tinta, e precisas esperar que essa camada seque antes de aplicar a próxima. Pode demorar várias mãos de tinta antes de obter aquela tonalidade perfeita que tinhas em mente, por isso é necessário um pouco de paciência e muita dedicação.

Se não acreditas em nossa palavra, talvez acredites no famoso Robert Graves, que sempre disse que “não existe uma boa escrita, apenas uma boa reescrita”.

  • Exaustão

Estás obcecado(a) com essa vírgula há horas. A vês sempre que fecha os olhos e encontra-te à deriva no meio de conversas, tentando decidir se essa frase chave é realmente melhor sem ela. As chances são de que simplesmente estejas exausto(a). O teu corpo tem os seus limites – mental, físico, emocional – e às vezes só precisas de uma pausa. Tira uns dias de folga. Relaxa e não pensa em escrever por um tempo. Faz uma mudança de cenário, socializa, e deixa tuas ideias marinarem no teu subconsciente enquanto recarregas. Quando estiveres pronto(a), provavelmente encontrarás tua vontade e inspiração de escrever novamente.

  • Distrações

Às vezes escrever pode parecer a coisa mais frustrante que já tentaste. Vivemos numa era de constantes distrações diminuindo nossa atenção. Isto torna o trabalho de ser um(a) escritor(a) ainda mais difícil do que já era antes.

Às vezes essas distrações acumulam-se e afogam o foco e a criatividade; não há tanto espaço em tua cabeça. Estar livre de distrações é um luxo que apenas alguns têm. A maioria dos escritores têm famílias, empregos ou estudos, e outras responsabilidades a cumprir, que podem ocupar uma enorme quantidade de espaço no cérebro. Tenta ficar longe do teu smartphone por um tempo, e tira algum tempo de folga. Ou toma conta das coisas que estão na tua mente, atrapalhando tua concentração.

Se isto te soa familiar, provavelmente não és um bloqueio de escritor, afinal. Pode haver demasiadas coisas na tua mente – e na tua mesa.

  • Medo

Criar algo pode ser uma coisa muito assustadora – especialmente quando envolve colocar teus pensamentos no papel e convidar estranhos a ler-te e julgar-te. Muitos escritores têm dificuldade em expor-se e compartilhar seu trabalho. Afinal, receber crítica negativa nunca é agradável, e como saber se alguém sequer irá se interessar em teu livro? O medo de rejeição (que é provavelmente um antigo mecanismo de sobrevivência alojado profundamente em nossos cérebros) é uma das principais razões pelas quais alguns grandes escritores nunca se tornam autores. Isso significa que precisas superar esse medo para vencer o teu bloqueio de escritor – por mais clichê e inútil que pareça dizer isso.

Realmente não tens muito a perder. Um pouco de crítica não irá matar-te; até autores famosos têm que lidar diariamente com terríveis críticas. Por isso, não deixa que o medo de uma potencial crítica faça-te desistir. Algumas pessoas não vão gostar do teu trabalho, claro – mas é impossível agradar todos. Irás impressionar-te com o que pode acontecer se mostrares um pouco de coragem.

Um truque útil que podes usar para evitar o medo de rejeição é adotar um pseudônimo. Dessa forma, podes criar uma persona para ti mesmo (uma pessoa completamente diferente se quiseres) que se torna o destinatário de todas as críticas. Este é um pequeno truque psicológico que ajuda muitas pessoas a se isolarem do feedback negativo.

Superando o bloqueio de escritor

Então, falamos sobre algumas potenciais causas do bloqueio de escritor, e abordamos certas formas de começar a lidar com elas. Agora, vamos começar a rever alguns métodos testados ao longo do tempo para ativamente superares este bloqueio e preencheres tuas páginas com palavras. Essas dicas foram coletadas de nossos usuários, da nossa própria experiência e de um trabalho de detetive na internet; são dicas de escritores para escritores. Vamos lá, ver várias estratégias que outros têm usado.

1 –  Mantém a calma e continua escrevendo

Escrever requer prática. Muita prática – como qualquer arte, habilidade, instrumento ou esporte. Muitos autores argumentam que a inspiração só virá se te esforçares para continuar escrevendo todos os dias; afinal, um(a) atleta não para de correr uma vez que fica suado(a). Persiste e supera teus obstáculos temporários para alcançar teus objetivos.

Para Maya Angelou, uma das autoras mais elogiadas do nosso tempo, o truque é não repensar demais as coisas. Escreve bobagens se for preciso, mas continua a escrever, não importa o que aconteça. Mesmo que não gostes ou não entendas o resultado, podes salvar pelo menos alguma parte do trabalho e construir outro sobre ele. Vasculha a tua mente como um garimpeiro em busca de ouro.

Inclusive, no livro de Naomi Epel “Autores sonhando: 26 escritores falam dos seus sonhos e do processo criativo”, Maya Angelou explica: 

Suponho que às vezes fico sim “bloqueada”, mas não gosto de descrever desta forma. Isso parece dar o  “bloqueio” mais poder do que eu quero que ele tenha. O que eu tento fazer é escrever. Posso escrever durante duas semanas ‘o gato sentou-se no tapete, isto é por que não é um rato’. E pode ser o mais entediante e chato possível. Mas eu tento. Quando estou a escrever, eu escrevo. E depois é como se a musa estivesse convencida de que estou a falar sério e dissesse: “Está bem. Está bem. Estou indo.’

2 – Programa tua escrita

Esta estratégia é semelhante à anterior, embora talvez um pouco mais estruturada na sua implementação. Baseia-se na filosofia de que, como autor(a), tens que escrever todos os dias; um ponto de vista defendido por Anthony Trollope, e entre outros. Trollope programava a sua escrita para um determinado período de tempo por dia. Ele estabelecia uma meta diária de palavras e fazia questão de alcançá-la todos os dias. Enquanto escrevia, ele se trancava em seu quarto para evitar qualquer distração possível, e se obrigava a se concentrar na tarefa que tinha em mãos.

3 – Estabelece rituais de escrita

Muitos escritores enfatizam a importância de rituais. Somos criaturas de hábitos; rituais e rotinas são como fazemos sentido do mundo, e entramos no estado de espírito certo para realizar tarefas. Escrever é uma dessas tarefas.

Vamos deixar Toni Morrison explicar isso melhor, através de uma entrevista que teve com Elissa Schappell no The Paris Review:

“Recentemente eu estava conversando com uma escritora, que descreveu algo que ela fazia sempre que se mudava para sua mesa de escrever. Não me lembro exatamente qual foi o gesto – há algo em sua mesa que ela toca antes de bater no teclado do computador – mas começamos a falar de pequenos rituais que se passam antes de começar a escrever. Eu, no início, pensava que não tinha um ritual, mas depois percebi que sempre me levanto de manhã, faço uma xícara de café enquanto ainda está escuro – deve estar escuro – e bebo enquanto vejo a luz chegar. E ela disse: “Bem, isso é um ritual”.

Às vezes, realizamos estes rituais sem nem sequer notar. Quando sofres de um bloqueio de escritor, pode valer a pena refletires sobre teus próprios rituais e ver se algo está atrapalhando-te. Alternativamente, podes tentar introduzir novos rituais em tua vida. Tenta pensar em uma das tuas sessões de escrita mais produtivas e tenta identificar algo que contribuiu para que essa sessão fosse tão boa.

Os rituais podem ser simples como fazer uma xícara de chá, ouvir música ou organizar a tua mesa. Algo que possa ajudar-te a mudar tua mentalidade o suficiente para ver as coisas com uma nova perspectiva e ajudar-te a preparar-te mentalmente para começar a escrever.

4 – Sai

Às vezes um retiro é a estratégia mais prudente. Em vez de tentar hackear teu cérebro e tentar anular o bloqueio do escritor, faz o contrário e para de escrever completamente. Simplesmente põe o livro de lado por alguns dias e clareia a tua mente. Tenta encontrar inspiração em algum lugar que não seja uma página em branco.  

Hilary Mantel oferece este conselho:

Se está preso, afasta-te da tua mesa. Dê uma volta, tome um banho, vá dormir, faça uma torta, desenhe, ouça música, medite, faça exercício; o que quer que faça, não se limite a ficar olhando para o problema. Mas não faça telefonemas ou vá a uma festa; se o fizer, as palavras das outras pessoas vão derramar onde as suas palavras perdidas devem estar. Abra uma brecha para suas palavras, crie um espaço. Seja paciente.

A conselho de Mantel, poderias fazer uma (ou mais) das seguintes coisas, por exemplo:

  • Ouve música (ou toca um instrumento musical)
  • Exercício físico
  • Lê um livro, talvez de um(a) escritor(a) que te inspira
  • Medita, faz yoga
  • Dá uma volta, explora uma rota que nunca fizeste antes
  • Anda de bicicleta sem ter um destino em mente
  • Faz uma mudança completa de cenário (faz uma viagem ao mar/floresta/montanhas)
  • Experimentz uma receita que queres cozinhar há muito tempo
  • Jogar (legos, um quebra-cabeça, um videojogo)
  • Desenha algo (talvez uma cena da tua história?)
  • Começa a trabalhar na tua capa

    5 – Entra no clima

Às vezes, a tua mente só precisa de um pouco de aquecimento. Em vez de agarrar o touro pelos chifres e abraçar frases, às vezes pode ficar melhor se te aproximares da tarefa de escrever de um certo ângulo. Como uma noite no cinema pode se tornar infinitamente mais agradável se saires para um bom jantar antes, podes obter um grande fluxo criativo, facilitando a ti mesmo o processo de escrita através de atividades relacionadas. Algumas ideias que a equipe do Bookmundo teve foram:

  • Faz alguma pesquisa sobre o cenário do teu livro, se possível
  • Lê livros semelhantes ao que queres escrever
  • Tenta fazer representações visuais do teu enredo – pode despertar-te algumas ideias novas
  • Escreve biografias curtas sobre os teus personagens; conhece-os melhor!
  • Se és do tipo que te inspira com palavras, por que não procurar citações motivadoras para começares?
  • Tenta escrever enquanto estás deitado(a)! Muitos autores famosos escreveram na cama, incluindo Mark Twain, George Orwell, e Truman Capote.
  • Ou talvez faz o contrário e arranja uma mesa de pé para escrever. Afinal de contas, Ernest Hemingway e Albert Camus escreveram de pé.
  • Fica bem e confortável. Se ainda não tens uma, investe numa boa cadeira ergonómica para aliviar o estresse da escrita.

Isso é apenas um pequeno conjunto de ideias, claro; as possibilidades são quase infinitas. Portanto, se pensares em qualquer outra coisa que possa ajudar nossos colegas escritores, compartilha tuas ideias connosco ou fala sobre tuas próprias experiências na seção de comentários abaixo.

Quando tiveres superado o bloqueio de escritor, porque não verificar a nossa plataforma de autopublicação? Construímos uma ferramenta de publicação abrangente que te garante o total controle de teu livro – tudo, desde o tipo de papel até ao preço de venda.

“Se você se render à sua imaginação, a história se escreverá sozinha”

― T.N. Suarez